DIRECIONALIDADE E LATERALIDADE: HABILIDADES QUE IMPACTAM NA APRENDIZAGEM

Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 11:33

Informação

Sabe porque razão algumas crianças têm dificuldades em distinguir direita e esquerda ou porque confundem alguma letras, como o p pelo q ou o d pelo b?

E porque os adultos têm dificuldades em seguir as orientações de uma mapa ou a encontrar o carro num parque de estacionamento?

A lateralidade e a direcionalidade são habilidades que integra tanto o processamento visual como o mental de forma a que as pessoas compreendam e interajam com o espaço à sua volta. São duas das habilidades que compõem as habilidades visuoespaciais.

A direcionalidade está associada à capacidade de perceber, identificar e entender as direções no espaço (direita, esquerda, acima, abaixo, frente e trás). Ou seja, é ter a consciência interna do espaço localizado à direito ou esquerda da linha média do corpo. Esta habilidade desenvolve-se nos primeiros anos de vida e permite a orientação espacial, essencial para a leitura e a escrita, pois estas atividades exigem que a pessoa saiba a direção correta para organizar as letras e seguir a sequência dos textos. Esta habilidade envolve a percepção espacial e a capacidade de se localizar e movimentar no ambiente, o que depende da integração de informações sensoriais e motoras processadas no cérebro.

A lateralidade refere-se à predominância de um dos lados do corpo em relação ao outro, como o uso preferencial da mão direita ou esquerda (destro ou canhoto), o olho dominante, o pé e o ouvido preferido. A lateralidade está relacionada à especialização hemisférica do cérebro. Aproximadamente, 95% das pessoas utilizam o hemisfério esquerdo para a linguagem (falar, escrever, entender). Este hemisfério também está especializado na matemática, na memória verbal, em determinar o ritmo e o tempo e na coordenação da ordem dos movimentos mais complexos. 

O hemisfério direito está altamente especializados nas destrezas perceptuais, é o que ajuda a orientar-nos com um mapa, a reconhecer caras, padrões e melodias, é mais artístico,  ajuda a expressar e a receber as emoções e é o responsável pela orientação esquerda/direita, rotação de figuras, processamento geométrico e perceptivo.

Para que estas habilidades se desenvolvam corretatamente e as podamos usar com alto rendimento é necessário que a informação sensorial chegue  aos "departamentos" cerebrais o mais perfeita possível. O sistema visual recebe mais de 80% da informação sensorial, por isso, é tão importante para um bom processamento mental. Se durante o percurso visual existir alguma anomalia esta se irá repercutir na resposta cerebral ao estímulo recibido.  

Veja como o  percurso visual primário, ilustrado pela seguinte figura, é complexo e muito bem organizado.

Quando a informação visual chega ao córtex visual, localizado no lobo occipital,  é classificada e o resultado é transmitido através da via secundária, através do ramo ventraldorsal, ao lobo temporal e parietal, respetivamente. Fig. B

Fig.B Via Visual Secundária

A via ventral (área visual occipital-temporal) e a dorsal (área visual occipital-parietal) é a que processa o que são os objetos e onde estão localizados no espaço, respetivamente. Ou seja, é a que nos diz, por exemplo,  que a maçã que estamos a ver é de cor vermelha e lisa e está encima da mesa.

Vejamos com mais detalhe a especialização de cada via.

A via dorsal permite ao cérebro analizar "onde" as coisas estão no espaço e o movimento. É a que nos faz dar conta que o seu filho corre para os seus braços ou que a bola voa em direção à baliza. Ou seja é responsável:

  • pela percepção espacial e percepção de movimentos complexos;
  • pela atividades motoras visuais (os movimentos sacádicos e de seguimento) e do resto do corpo (agarrar um objeto ou caminhar);
  • pela orientação no ambiente, como escrever um texto numa folha;

A via ventral dá-nos a informação "o quê" permitindo reconhecer formas e objetos. As áreas temporais fornecem as memórias visuais para poder lembrar o que é numa próxima vez que volte a ver. Por exemplo, lembrar que é a letra P ou que o objeto é uma bola.

A via Ventral é então responsável pela:

  • sensibilidade ao contraste
  • visão da forma, padrão, textura e da cor
  • percepção de profundidade
  • percepção de objetos e rostos

Voltando ao exemplo da maçã, a via ventral permite dizer-lhe que é lisa, redonda e de cor vermelha e a via dorsal diz-lhe que está encima da mesa à esquerda do copo.

Como pode compreender o cérebro divide o trabalho de forma peculiar e interessante mas a sua totalidade trabalha muito bem sincronizada e ao mínimo pormenor. 

Chegando a este ponto, é mais fácil entender que uma pessoa que não tem as habilidade visuo-espaciais  bem desenvolvidas seja por alterações visuais ou cognitivas tenha mais dificuldade na aprendizagem e na sua vida cotidiana. 

O cérebro amadurece e aprende com as experiências e,  portanto,  quando as áreas visuo-espaciais e motoras, de uma criança, não recebem a mesma experiência de aprendizagem comparada com outra criança, terá mais dificuldade em acompanhar as exigências escolares e mais tarde, profissionais.

As crianças com baixa habilidade visuoespacial podem apresentar dificuldades em ler, escrever ou a visualizar e interpretar gráficos passando a ser catalogados como distraídos ou desatentos. Em oposição,  o seu comportamento muda quando assistem a uma apresentação em vídeo porque têm uma forte preferência cognitiva baseada na linguagem.

Embora possam ser leitores fluentes, a dificuldade de compreensão da leitura impossibilita-os de captar informações implícitas.

A baixa habilidade visuoespacial também pode levar  o leitor a pular palavras ou linhas e a confundir ditongos ou ordem das letras. Leva-os também a ter dificuldade com a matemática, como visualizar fórmulas semelhante ou realizar uma divisão, por exemplo. Como a matemática exige uma boa habilidade visuomotora, os alunos podem ter dificuldades numa simples linha numérica para cálculos simples e na geometria em que se usa a imaginação para desenhar e orientar mentalmente a forma geométrica.

As habilidades das funções executivas do córtex pré-frontal, como o controlo e gestão emocional, o raciocínio, organização e planejamento, dependem das habilidades visuoespaciais. A capacidade de visualizar mentalmente o planeamento de uma determinada tarefa também leva a que visualize as consequências ou o resultado da execução dessa tarefa. Por exemplo, se uma criança ao longe visualiza a bonita e atraente maçã, ela começa a planear o seu movimento e "calcular o caminho mais rápido para a agarrar. Neste exemplo, a criança, analisou qual dos caminhos é o mais rápido e seguro,  antecipando as consequências de escolher um ou outro caminho. Dependendo da escolha terá um resultado diferente. 

Uma das disfunções da visão binocular mais comuns e que interfere na performance das habilidades visuoespaciais, é a Insuficiência de Convergência, IC. Principalmente na idade escolar, a IC condiciona e interfere na aprendizagem, tanto da leitura e escrita como na interpretação de textos e na matemática. A sobreposição e movimento das letras ou números, a dificuldade de espaçar as palavras ou seguir a linha de leitura diminui a qualidade e o rigor da informação enviada pela via visual até às áreas cerebrais especializadas na perceção visuoespacial.

Como fortalecer ou treinar as habilidades visuoespaciais

A neuropasticidade cerebral está na base da procura crescente de formas de melhorar a performance mental e visual. Portanto, as habilidades visuoespaciais também podem ser treinadas de forma a estabelecer e fortalecer conexões cerebrais que levarão a um melhor rendimento. Existem múltiplos exercícios que podemos aplicar mas como em qualquer treino, o tempo e a consistência é o que produz resultados. Gerar dopamina é fulcral para manter a motivação na prática dos exercícios. Uma forma de gerar este neurotransmissor é através do jogo em que se obtém uma recompensa, por exemplo através de pontos. 

Podemos fortalecer as habilidades visuoespaciais, como a laterallidade e a direcionalidade, através dos seguintes jogos:

Neste exercício treinamos a direcionalidade, a coordenação, equilibrio e orientação espacial. Melhoramos as habilidades de leitura,  escrita e a geometria.

Este exercício é especialmente indicado para crianças que têm dificuldades na leitura. Aqui treinamos e fortalecemos a direcionalidade.

Indicado para treinar a coordenação olho mão. Desenvolvemos a habilidade visuomotora.

Este exercício fortalece a via visual ventral e dorsal treinando a lógica e o raciocínio e as funções executivas. Muito bom para quem quer melhorar a matemática.

Todo o treino tem que ser prescrito e orientado por um neuro optometrista que irá definir e acompanhar os exercícios durante o tempo de treino ou terapia. Este tipo de treino podem ser realizados individualmente, em equipa ou duelo, aumentando não só a motivação como o desempenho.

É importante referenciar que nem a terapia nem o treino curam qualquer patologia mas o correto diagnóstico acompanhado de um bom tratamento,treino ou terapia são essenciais para que se alcance o melhor resultado.  Quanto melhor for o rendimento visual melhor será o rendimentos das habilidades mentais.