O stress é uma resposta fisiológica, natural e automática que nos permite acomodar e compensar biológica, fisiológica e emocionalmente a um estímulo interno, externo, real ou imaginário. Ou seja, uma grande diversidade de estruturas cerebrais, coletivamente detetam eventos e interpreta-os com ameaças reais ou potenciais, preparando o corpo para "lutar ou fugir". O stress é necessário no nosso dia a dia ao colocar o organismo em estado de alerta permitindo regressar, quando já não existe o agente stressor, a uma estado de equilibrio (homeostase).
Por exemplo, falar em público, pode desencadear um conjunto de respostas do organismo, como o aumento da pressão sanguínea, dos níveis de açúcar e da temperatura preparando o corpo para sair da zona de "perigo". Quando, neste caso, a pessoa já passou pelo processo de falar em público, o organismo capta a ausência de ameaça e desencadeia todo o mecanismo homeostático para voltar ao estado de equilibrio.
Quando o stress é crónico ou prolongado leva à perda deste equilibrio homeostático e a todas as consequências daí derivadas.
Resposta do corpo ao stress
Para entender este facto é necessário conhecer a biologia do stress. Tudo começa no cérebro. Quando chega uma determinada informação enviada pelos orgãos dos sentidos à amigdala e esta a interpreta como perigo, envia instantaneamente um sinal de alerta ou socorro ao hipotálamo. Veja a figura 1. A amígdala é uma estrutura em forma de amêndoa no centro do cérebro, faz parte do sistema límbico e é onde se geram as emoções. O hipotálamo comunica-se com o resto do corpo através do sistema nervoso autónomo responsável pelas funções involuntárias, como respirar, batimentos cardíacos, pressão arterial, dilatação e constrição dos vasos sanguíneos. O sistema nervoso autónomo é composto pelo sistema nervoso simpático (responsável pela ação luta ou fuga) e o sistema nervoso parassimpático (responsável pela calma depois do perigo passar).
Depois de receber o sinal de alerta da amígdala (ameaças físicas, emoções intensas, ruídos, luzes brilhantes e alta temperatura), o hipotálamo ativa o sistema nervoso simpático, enviando através da medula espinhal, sinais para as glândulas supra-renais que irão segregar e bombear para a corrente sanguínea a hormona adrenalina (também conhecida com epinefrina) que vai circular por todo o corpo. A adrenalina é a responsável pelas diversas alterações fisiológicas, como o aumento dos batimentos cardíacos, aumento do açúcar no sangue, dilatação dos vasos sanguíneos, estimulação do ritmo da respiração, aumento da tensão muscular, dilatação das pupilas e o aumento da energía corporal. A adrenalina prepara o corpo para a ação, a qual nos faz reacionar de forma explosiva, impulsiva e defensiva.
Estas alterações fisiológicas são tão rápidas que as pessoas não se apercebem e até mesmo anteriores a que o sistema visual tenha tido a oportunidade de realizar o processamento completo do que está a acontecer.
Figura 1. Central de alarme
Figura 2. Esquema das glândulas supra-renais
A imagem foi criada pelo autor (Dr. Gazala Hitawala).
À medida que o aumento inicial dos níveis de adrenalina descem, o hipotálamo ativa uma segunda via, chamada o eixo HPA (hipotálamo - glândula pituitária- glândulas supra-renais), uns instantes depois da via descrita anteriormente. Se o cérebro perceber que ainda existe perigo, o hipotálamo liberta uma hormona chamada hormona libertadora de corticotrofina (CRH) sinalizando à hipofise para que esta segregue a hormona adrenocorticotrofina (ACTH) que desce até às glândulas supras-renais (Figura 2), estimulando a libertação de cortisol (prepara e regula o resposta do corpo ao stress). O corpo permanece assim acelerado e em máxima alerta. Quando a ameaça passa, os níveis de cortisol caem. O sistema nervoso parassimpático amortece então a resposta ao estresse, acalmando e desacelerando as funções. O corpo recupera a energia e assegura o bem-estar.
O Stress e a Visão
Ao compreender os mecanismo de resposta do corpo ao stress, torna-se mais fácil entender as implicações que este tem sobre a visão.
O nosso corpo responde de forma eficaz e volta ao seu estado de equilíbrio, homeostase, quando o stress não sobrepassa a intensidade e o tempo.
Os problemas de saúde, incluindo os visuais, devem-se ao stress crónico (constante e prolongado). Os níveis cortisol e adrenalina elevados e prolongados desequilibram o sistema nervoso simpático (controla e regula os orgãos) e impactam negativamente os olhos, o cérebro e sistema vascular. Portanto, o stress crónico ao provocar a desregulação vascular (quantidades insuficientes ou ao tempo de fornecimento de oxigênio no tecido ocular), pode também ser uma das principais causas do glaucoma, neuropatia ótica, retinopatia pigmentar, degeneração macular, oclusão da veia da retina e da hemorragia ocular, pelo aumento da pressão arterial ou por um aneurisma A implicação no sistema visual pode ser dupla, ou seja, a perda de visão pode causar stress crónico e o stress crónico pode causar problemas visuais. Isto cria um ciclo vicioso em que a perda inicial da visão cria stress, o que acelera ainda mais a perda de visão, criando ainda mais stress e assim por diante.
Stress e a Pseudo-Miopia
A perda de visão pode ocorrer sem qualquer indicação de anomalias patológicas. Uma das alterações visuais que o stress provoca pela desregulação do sistema nervoso autónomo (neste caso o sistema parassimpático) é a pseudo-miopia ("falsa miopia"). Figura 3.
A enervação do parassimpático ao nervo oculomotor provoca duas alterações oculares:
- Miose pela contração do músculo esfíncter da pupila
- Contração do músculo ciliar pelo relaxamento das fibras zonulares do cristalino aumentando a convexidade e potência do cristalino (aumento da refração). Interfere portanto na acomodação.
O corpo utiliza o sistema parassimpático para neutralizar o stress. O sistema parasimpático provoca o relaxamento das fibras ciliares do cristalino aumentando a sua potência dióptrica. Se constantemente usamos o parassimpático, provocamos uma acomodação inadequadamente excessiva do olho devido à superestimulação ou espasmo ciliar. Esta condição gera visão desfocada ao longe, fotofobia e dor ocular que pode ser transitória ou pode evoluir para miopia. Os sintomas e sinais podem ser unilaterais ou nos dois olhos. A pseudomiopia é muito comum nas crianças e como principal causa temos ao uso excessivo dos dispositivos digitais ou muito tempo de estudo, potenciadores de stress.
Stress e Sintomas Oculares
Outros sintomas e sinais visuais podem estar presentes em situações de alto e constante stress. Vejamos os principais:
- Tremor nas pálpebras
- Visão dupla
- Olho seco ou excesso de lágrima
- Visão em túnel
- Sensibilidade à luz
Estes sintomas geralmente não são graves e assim que o agente stressor desaparecer a visão volta à normalidade. Se, pelo contrário os sintomas persistirem recomenda-se consultar o Optometrista para uma avaliação mais profunda.
Quanto ao stress persistente, existem muitas razões, tanto a nível mental como visual, em investir no seu bem-estar com atitudes e ações que dinamizam e potenciem o pensamento positivo, controlo emocional e o desenvolvimento pessoal. Parar para refletir e pensar que temos o poder de alterar a situação a nosso favor é fundamental para estabelecer hábitos e pensamentos saudáveis que nos levam a uma vida mais calma e cheia de vitalidade.