A relação entre PHDA e Insuficiência de Convergência

Publicado em 10 de setembro de 2024 às 23:15

Neste artigo analizaremos a relação entre a PHDA (uma perturbação do neurodesenvolvimento), perturbação de hiperatividade/défice de atenção, e a insuficiência de convergência (IC), uma disfunção ou problema visual. 

Ambas condições, caracterizam-se por défice de atenção, concentração, inquietude e impulsividade sendo frequentemente confundidas uma com a outra e os afetados pela PHDA podem ter mais probabilidade de apresentar IC.

O que é a Insuficiência de Convergência?

A insuficiência de convergência é um transtorno visual frequente (perto de 5% da população) em que os dois olhos não trabalham em equipa quando fixam um objeto que está perto.

A convergência é a capacidade que ambos olhos têm de girar ao mesmo tempo para o nariz para ver o objeto que pretendemos. Esta habilidade é proporcionada pelos 6 músculos oculares que permite aos olhos moverem-se em distintas direções. Quando os dois olhos estão coordenados ou em sintonia entre eles, o cérebro é capaz de fusionar as duas imagens (uma de cada olho) criando uma só imagem.

A maioria das pessoas conseguem convergir praticamente até ao nariz (2-3 cm do nariz).

Esta habilidade visual é crucial na vida diária principalmente para todos os que usam muito o trabalho de perto como os estudantes, advogados, arquitetos, escritores, informáticos, etc.

A dificuldade ou incapacidade de girar os dois olhos ao mesmo tempo para um determinado ponto ao perto, pela falta de convergência, é conhecida por Insuficiência de Convergência (IC).

É importante salientar, e a razão por passar despercebida em muitas consultas visuais, que a IC não implica ter baixa acuidade visual ou nitidez em cada olho por separado. Dito de outra forma, uma pessoa pode ter uma "visão perfeita" quanto à nitidez mas a visão binocular é pobre e ineficiente.

Que problemas pode derivar a Insuficiência de Convergência?

Um dos problemas mais acentuados de uma IC não detetada e tratada é a diplopia. Quando esta capacidade de focar o objeto numa única imagem é impedida pela falta de coordenação oculo-muscular, a pessoa vê duas imagens, condição extremamente incapacitante e desagradável. 

Pode acontecer, que para não ver duas imagens, o cérebro "descarta uma delas ou a pessoa usa determinados movimentos de cabeça na tentativa de manter uma única imagem ou demasiado esforço muscular durante as tarefas de perto, provocando os seguintes principais sintomas e sinais:

  • visão dupla
  • cansaço visual
  • dificuldades de leitura, interpretação e escrita
  • perda da palavra ou linha num texto
  • leitura lenta
  • dores de cabeça
  • visão turva
  • visão desfocada ao perto ou ao longe depois de ver ao perto
  • evita tarefas ao perto, como estudar
  • dificuldade na percepção de profundidade
  • perda da concentração
  • dificuldades de atenção
  • dificuldade de estar quieto quando desempenha uma tarefa
  • stress e ansiedade
  • tapa um olho
  • semi fecha um olho
  • esfrega os olhos
  • sonolência durante o trabalho ao perto
  • enjoo ou vertigens
  • problemas de conduta

Isto pode ter um grande impacto no rendimento escolar e académico dos estudantes e também afeta o rendimento laboral e profissional dos adultos.

Qual é a causa da IC?

A causa exata da IC é desconhecida mas pensa-se que seja pela falta de coordenação neuromuscular (nervos-músculos) e é possivel que tenha fatores hereditários.

A dificuldade de convergir também não está relacionada com erros refrativos (miopia, hipermetropia e astigmatismo).

A IC também pode ser secundária a traumatismos cerebrais, infeções e a doenças neurodegenerativas e miastenia gravis

Porque, com frequência, a IC não se deteta e se pode confundir com outras condições?

Normalmente as crianças e jovens não se queixam porque para eles é normal ver dessa maneira. Por outro lado, se na avaliação visual não se analiza em profundidade a função visual mesmo que o paciente tenha boa acuidade visual, a IC não é detetada, desviando o problema para a dislexia, problemas de aprendizagem ou défice de atenção. 

Que relação há entre a IC com a PHDA?

A insuficiência de convergência e o TDAH estão relacionados de maneira particular. Os sintomas destas duas condições costumam-se sobrepôr, o que pode resultar num diagnóstico errado — alguém pode pensar que tem PHDA quando, na verdade, tem uma insuficiência de convergência. É comum que pacientes e pais confundam as dificuldades de leitura e concentração causadas pela insuficiência de convergência com sinais de PHDA.

Recentes estudos relatam que as crianças com problemas visuais têm maior risco de desenvolver o TDAH. Também referem que há uma incidência aparentemente três vezes maior de IC na população com TDAH.

Um dos grandes desafios é a comunicação entre os diferentes profissionais que atuam nesta área, como psicólogos, neurologistas, pediatras, professores e optometristas. A avaliação deve ser abrangente e interdisciplinar,  informando os pais ou aos pacientes das terapias atuais e baseadas em evidências que ajudem a ultrapassar e a armonizar um problema que pode levar à exaustão de muitos educadores.

Como se trata a IC?

Há duas formas de tratar a IC:

  1. Terapia e treino visual para melhorar a capacidade de convergir através de exercícios visuais. Estes exercícios podem ser realizados presencialmente ou online. O Instituto Aifos dispõe as duas opções usando o jogo como motivação para a realização dos exercícios diariamente e sem esforço.
  2. Através de óculos com prisma para a realização das tarefas ao perto. Os prismas aliviam os sintomas mas não tratam a IC.

Recomenda-se a terapia porque é muito efetiva a tratar a causa do problema e porque tem uma base científica. A maioria das crianças (perto de 75%) que receberam o tratamento, durante um estudo, melhoraram significativamente os seus sintomas e provas clínicas.

Outro ensaio clínico “Convergence Insufficiency Treatment Trial”, relata que 50% dos adultos, dos 19 aos 30 anos, que participaram no estudo, melhoraram os seus sintomas e provas clínicas. Os resultados dão a entender que a terapia é mais eficiente nas crianças e adolescentes mas que também há uma grande probabilidade de os adultos melhorarem substancialmente com o tratamento.

 Os prismas são indicados para paciente de idade avançada ou que não têm disposição para a realização dos exercícios.

O treino visual e mental, desenvolvendo as habilidades visuais e mentais, dão um contributo importante na qualidade de vida dos paciente com hiperatividade ou défice de atenção potenciando, através de exercícios, a concentração e atenção. Por outro lado, treinar as habilidade executivas do cérebro melhora a conduta e o controlo da impulsividade.